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31 de julho: Dia Nacional da Mulher Arquiteta e Urbanista

31 de julho: Dia Nacional da Mulher Arquiteta e Urbanista

A história da arquitetura foi marcada por contribuições significativas de arquitetas mulheres, que muitas vezes são negligenciadas e subestimadas.

pro archshop setembro de 2024 projetos

A contribuição das mulheres na história da arquitetura é ampla e significativa, porém constantemente negligenciada e subestimada. Recentes iniciativas têm se dedicado a valorizar o trabalho dessas profissionais e a promover a igualdade de gênero no campo da arquitetura e do urbanismo. Um marco importante nessa trajetória foi a aprovação, em 2020, do Dia Nacional da Mulher Arquiteta e Urbanista, comemorado em 31 de julho.

Essa data vai além de um simples motivo de celebração, pois representa um passo na promoção da igualdade de gênero. O estabelecimento do Dia da Mulher Arquiteta e Urbanista pelo CAU proporciona uma oportunidade para refletir sobre ações e políticas necessárias para a igualdade entre mulheres e homens da área. Segundo dados do SICCAU, mulheres representam 64% dos profissionais na arquitetura, enquanto homens correspondem a 36%. É importante ressaltar que em todos os estados brasileiros as arquitetas são a maioria. No entanto, a pesquisa revelou inúmeras desigualdades ainda existentes entre arquitetos e arquitetas.

Neste artigo que dividiremos em 2 partes, vamos destacar o trabalho e o legado de 15 mulheres notáveis na história da arquitetura. Nesta primeira parte, vamos abordar 7 mulheres essenciais na história da arquitetura brasileira. É importante ressaltar que muitas arquitetas mulheres foram apagadas da história, e por isso pouco se sabe sobre elas. Além dos 7 nomes notáveis que apresentamos aqui, lembramos também das muitas outras que contribuíram para a arquitetura durante as últimas décadas, sendo conhecidas ou não.

Arinda da Cruz Sobral
Lota de Macedo Soares
Lina Bo Bardi
Dora Alcântara
Rosa Kliass
Mayumi Watanabe de Souza Lima
Chu Ming Silveira

Arinda da Cruz Sobral

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Arinda da Cruz Sobral (1883–1981) foi uma arquiteta e professora brasileira. Nascida no Rio de Janeiro, ela cresceu em uma família de classe média e se tornou uma pioneira em sua área. Ela alcançou um marco significativo ao se tornar a primeira mulher a estudar arquitetura no Brasil e possivelmente a primeira mulher arquiteta da América Latina. Arinda estudou na prestigiosa Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, a única instituição que oferecia o curso de arquitetura no Brasil na época.

A busca de Arinda pela formação na área foi uma conquista excepcional que reconsiderou as normas de gênero e expectativas sociais da época. Apesar de ser a única mulher em sua turma, ela se destacou em seus estudos e se formou em 1914. Ao longo de sua carreira, Arinda deixou sua marca na paisagem arquitetônica do Brasil, sendo um de seus trabalhos notáveis a Capela São Silvestre, no Parque Nacional da Tijuca. A capela foi finalizada em 1918 e hoje faz parte de uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

O legado de Arinda da Cruz Sobral como a primeira mulher arquiteta do Brasil serve hoje de inspiração para outras mulheres arquitetas aspirantes. Sua atitude destacou a importância de seguir seus sonhos e paixões apesar das barreiras da sociedade. A arquiteta é até hoje celebrada e se consolida como uma figura pioneira na história nacional.

Lota de Macedo Soares

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Lota de Macedo Soares (1910–1967) foi uma arquiteta paisagista autodidata brasileira conhecida por sua abordagem visionária no design e suas contribuições para o campo. Criada em um ambiente privilegiado, ela desenvolveu desde cedo uma paixão pela arte e pela natureza, o que posteriormente moldou sua carreira como arquiteta paisagista. Destacando-se por seus projetos progressistas e inovadores, Lota deixou um impacto duradouro na paisagem brasileira.

Um dos projetos mais renomados em que fez parte foi o Aterro do Flamengo (ou Parque Brigadeiro Eduardo Gomes), no Rio de Janeiro, considerado o maior aterro urbano do mundo. O projeto buscou transformar terras recuperadas em um espaço verde para o desfrute do público. O design da arquiteta incorporava elementos da arquitetura modernista com adição de formas orgânicas. Sua abordagem levava em conta a funcionalidade, estética e ecologia do ambiente. Ela buscava promover a convivência harmoniosa entre seres humanos e natureza.

Lota viveu uma significativa história de amor com a poetisa estadunidense Elizabeth Bishop. O casal se conheceu em 1951 e ficaram juntas até 1965. Sendo uma parte importante da vida pessoal e profissional das duas, foi eternizado no cinema com o filme Flores Raras, de 2013. Glória Pires interpreta Lota.

Lina Bo Bardi

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Lina Bo Bardi (1914–1992) foi uma arquiteta, designer e ícone cultural ítalo-brasileira. Cresceu na Itália e teve uma exposição precoce às artes, pavimentando o que seria uma carreira extraordinária na área. Seu fascínio pela arquitetura floresceu durante os estudos na Universidade de Roma, onde se envolveu com a rica herança arquitetônica da cidade. Mudou-se em 1946 para o Brasil com seu marido Pietro Maria Bardi, embarcando no que viria a ser uma jornada transformadora que moldaria seu legado.

Renomada por sua habilidade em combinar de forma harmoniosa elementos modernistas e tradicionais, os projetos de Lina eram caracterizados pelo uso inovador do espaço, da materialidade e do contexto cultural. Seu projeto mais icônico, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), é um testemunho de sua abordagem visionária. O design arquitetônico ousado do museu, com sua estrutura suspensa de vidro e concreto, desafiou as normas convencionais e se tornou um marco arquitetônico.

As contribuições de Lina se estenderam para além da arquitetura. Ela foi uma defensora apaixonada pela igualdade social e acreditava no poder transformador da cultura. Seus projetos ilustraram da melhor forma a arquitetura modernista do Brasil e do mundo, e hoje é reconhecida como um dos grandes nomes do movimento. Em 2021, Lina se tornou a primeira arquiteta brasileira a receber o Leão de Ouro na 17º Bienal de Arquitetura de Veneza. O prêmio póstumo também marca Lina como a primeira no mundo com obra construída e a terceira brasileira a conquistar o prêmio, se juntando a Oscar Niemeyer (1996) e Paulo Mendes da Rocha (2016).

Recomendamos a leitura do artigo:
Lina Bo Bardi: principais obras e criações

 

Dora Alcântara

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Dora Alcântara (1931–) é uma renomada arquiteta e professora brasileira. Formada em arquitetura em 1957 pela Universidade do Brasil, fez notáveis contribuições para os estudos sobre a azulejaria brasileira e preservação do patrimônio arquitetônico do país. Ela participou ativamente de projetos realizados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e se envolveu em iniciativas para conservação e promoção do rico legado cultural do Brasil.

Além de seu trabalho na preservação, Dora também fez contribuições importantes para a educação arquitetônica. Ela atuou como professora universitária, transmitindo seu conhecimento e experiência aos aspirantes a arquitetos. Seu papel como educadora foi fundamental para moldar a próxima geração de profissionais da arquitetura. Suas conquistas e impacto na arquitetura brasileira foram reconhecidos e homenageados pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em 2020. Ela se tornou a segunda mulher na história a receber o prestigioso prêmio Colar de Ouro, a mais alta honraria no campo da arquitetura brasileira.

Como pioneira no campo da azulejaria e uma mulher em uma profissão tradicionalmente dominada por homens, Dora testemunhou uma transformação ao longo das décadas. Ela observou o aumento da presença de mulheres no campo da arquitetura e expressou a esperança de que essa mudança contribua para a melhoria contínua da qualidade da arquitetura brasileira. Dora trabalhou incansavelmente até os 90 anos, exibindo uma paixão notável por sua arte. Hoje, ela desfruta de uma merecida aposentadoria, deixando uma marca memorável na paisagem e no patrimônio cultural brasileiro.

Rosa Kliass

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Rosa Grena Kliass (1932–) é uma premiada arquiteta e paisagista brasileira. Considerada uma das pioneiras desse campo no Brasil, entrou na história da arquitetura como um dos nomes mais importantes do estilo contemporâneo do país. Nascida no interior de São Paulo, Rosa prestou vestibular para a Faculdade de Arquitetura da USP, na qual foi aprovada e se formou em 1955. Seu interesse pelo paisagismo surgiu no último ano da faculdade, quando teve aulas sobre a disciplina com o arquiteto Roberto Coelho Cardoso. Segundo ela, até hoje não sabe o motivo de ter escolhido arquitetura, mas que encontrou sua missão logo no último ano do curso. Rosa faria também sua pós-graduação na mesma instituição, concluindo-a em 1989.

Ao longo de sua carreira, Rosa esteve envolvida em inúmeros projetos e desenhou paisagens para vários espaços públicos, parques e empreendimentos urbanos. Foi responsável pelo projeto paisagístico da Avenida Paulista, feito em 1973, e a revitalização do Vale do Anhangabaú, em 1981. Outro projeto de destaque em seu portfólio é o paisagismo do Mangal das Garças, parque zoobotânico de Belém. A ideia do projeto foi representar as diferentes macrorregiões florísticas paraenses.

Rosa esteve envolvida ativamente nas entidades profissionais em defesa do paisagismo. Foi a primeira mulher, em 1959, a compor a diretoria do IAB-SP. Já em 1976, fundou e presidiu a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), que promove a formação na área e auxilia os profissionais nos desafios da profissão. Fazia história mais uma vez enquanto professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie, fundando a cadeira de paisagismo do curso de Arquitetura e Urbanismo. Sua grande influência e dedicação foram reconhecidas através de inúmeros prêmios e honrarias, incluindo o Colar de Ouro do IAB em 2019, tornando-se a primeira mulher a receber o prêmio.

Mayumi Watanabe de Souza Lima

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Mayumi Watanabe de Souza Lima (1934–1994) foi uma arquiteta brasileira importante para a teoria, o planejamento e o desenvolvimento de espaços educativos públicos. Nascida no Japão, se naturalizou brasileira em 1956 e se formou em arquitetura na Universidade de São Paulo em 1960. Mayumi trabalhou ao lado de renomados arquitetos como Vilanova Artigas e Joaquim Guedes. Com Lina Bo Bardi, foi colaboradora e coordenadora das obras do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Mayumi concentrou-se no projeto de escolas públicas e esteve envolvida na construção e restauração de espaços educacionais. Sua vasta experiência em trabalhar com educadores, administradores e crianças levou-a a analisar o papel dos espaços dedicados às crianças na sociedade. Ela publicou dois livros sobre o assunto: "Espaços Educativos, uso e construção", de 1988, e "A Cidade e a Criança", de 1989.

Mayumi defendia que os arquitetos desempenhassem um papel transformador na sociedade e, como professora, levava seus alunos às favelas, enfatizando a importância da consciência social. Apesar de suas significativas contribuições, os registros de seu trabalho são escassos online. Seu legado, no entanto, permanece vivo. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde a arquiteta se formou, criou o Prêmio Mayumi Watanabe de Souza Lima. Ele é concedido aos melhores Trabalhos de Graduação Integrados (TGIs) do curso e acontece por votação popular, entre estudantes, professores e servidores.
 

Chu Ming Silveira

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Chu Ming Silveira (1941–1997) foi uma arquiteta e designer responsável por moldar a paisagem urbana e a identidade cultural brasileira. Nascida na China, Chu Ming imigrou com sua família para o Brasil quando tinha apenas 8 anos de idade. A experiência de crescer em um ambiente multicultural viria a enriquecer sua perspectiva artística. Após decidir pela formação em arquitetura, estudou na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e concluiu sua graduação em 1964.

Se envolveu em diversos projetos na área de edificações após a faculdade, quando abriu seu próprio escritório de arquitetura. A partir de 1966, passou a trabalhar para a Companhia Telefônica Brasileira, onde foi responsável por anteprojetos, supervisão e coordenação de projetos de centrais telefônicas e postos de serviço. Foi nessa época que desenvolveu sua mais conhecida criação: os protetores telefônicos Chu I e Chu II, popularizados como Orelhinha e Orelhão. Inspirados na forma do ovo, os Orelhões eram fabricados em fibra de vidro e eram resistentes às condições climáticas brasileiras. Introduzido no final dos anos 1960, foi uma abordagem inovadora que combinou estética e funcionalidade. O design do Orelhão não apenas serviu como uma instalação prática para os telefones públicos, mas também se tornou um marco cultural icônico brasileiro, lembrado e reconhecido até hoje.

Em 1975, elaborou com seu marido o projeto de uma casa que seria construída no bairro do Morumbi, em São Paulo. A casa foi planejada em concreto e vidro, revelando as influências brutalistas da arquiteta. A família de Chu Ming (a arquiteta, o marido e seus dois filhos) viveram na casa até os anos 1990. A partir de 1987, voltou-se para projetos residenciais no litoral paulista. Nessa época, denominou seu estilo arquitetônico como “pós-caiçara”, que consistia na integração harmoniosa entre construção e natureza, seguindo os princípios do Feng Shui. Chu Ming faleceu em 1997, em São Paulo, aos 56 anos. Seu legado é eternizado não só na história brasileira, mas através de seus dois filhos: Alan Chu é arquiteto e Djan Chu fotógrafo.


Recomendamos a leitura da segunda parte do artigo:
8 mulheres na história da arquitetura

 

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